segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Dia desses, a dor ressurgiu.
Paris estava em obras.
Dois grandes atentados, vários destroços, algumas feridas, uma perda irreparável.
Seriam duas, no caso, mas o conserto de uma delas, está em bom andamento. O da segunda, o buraco ainda é fundo, presenciá-lo é assustador, doloroso. A perda principal se fez nele.
Mas cada um deles, tem sua dor.
Alice, a Rainha Vermelha e seu rei, a princesa Elza e sua coelhinha mantém-se em pé. Mas na realidade, o segundo atentado, destroçou a familia real. A Rainha Mãe precisou partir e dela, ficam as lindas lembranças de uma vida ao teu lado. Lembranças que trazem uma dor de saudade absurda, as lágrimas voltam a cair feito enxurrada, em busca de lavarem o solo parisiense, levarem consigo os resquícios dos atendados e preparem o solo para novos bons e deliciosos frutos nascerem.
O primeiro atentado me deixa ainda muito abalado, e nem me recuperara direito dele, minha Paris sofreu o segundo. Difícil manter-me em pé e riste, mas a vida parisiense tem continuado.
Às vezes, tropeço nesse buraco aberto, em frente à Sacre Coeur, é uma escadaria infinita, bem cansativa, mas a gente busca, luta, corre atrás, e chega em suas portas enormes, talhadas, imponentes e respira fundo até 10. E aí, volto a andar, sabendo que aquele buraco me ronda, na verdade, eu ando em círculos rente ao precipício.
É quando me esbarro, sem perceber, em Montmartre, defronte ao primeiro grande estrago naquela Paria reluzente de raios solares, que já não conseguem reluzir muito bem, tamanha fumaça dos destroços que ainda insistem em povoar o ar e nos afixiar.
As moléculas de oxigênio começam a faltar, respirar CO2 é a certeza da morte cadavérica e esfacelante. E a corrida à Sacre Couer se torna a única saída de um fim desastroso, mesmo com tanta dor, pelos escombros do asfalto destruído, prédios caídos, mas só ali há oxigênio suficiente pra tentar nos salvar. E ali, estou a salvo e me salvo.
Minha vó, tem sido meio difícil saber que só terei suas fotos para olhar, abraçar, acariciar e beijar, mas o que me conforta é o amor que temos um pelo outro e saber o quão bem a senhora está aí em cima. E claro, a certeza de que um dia, nos veremos outra vez. E é assim que sobrevivo ao primeiro atentado. É pelo amor que me ensinou a ter pela vida e pela minha família, que sobrevivo, que me sinto a salvo e que me salvo.
Te amo, voinha Lucy.

Nenhum comentário: