quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

I will survive, literalmente (!)? - 2

Que a censura, não apague a chama.
Que a dor, não sufoque o grito.
Que a asfixia, não estrangule o amor.
Que ser, não seja proibido.

É proibido proibir!

Que a resistência não sucumba ao fel.
Que indiferença não pode a mente.
Que a intolerância não destroce a esperança.
Que a esperança não seja a primeira a matar.
E que não seja a última a morrer.

É proibido proibir!

Que o desespero não encontro terra fértil.
Que a terra seque para o pânico.
Que lutar represente a força.
Que a força não se contraia no medo.
Que a garganta não feche pela repressão.
Que não se mate pela incapacidade.
Que a inclusão não seja excluída.

É proibido proibir!

Que o eu não seja silenciado.
Que o lírico cresça o eu.
Que o gênero seja união.
Que a sexualidade seja livre.
Que o respeito seja mais importante que crenças.
Que a religião não seja lugar de poder.

É proibido proibir!

Que o pé seja a rotina da dança, não arma de fuga.
Que o estômago seja só para ser alimentado, não objeto de ânsia.
Que o coração seja o símbolo das emoções.
Que neurônios façam sinapses por alegrias.
Que o cérebro se encha de compaixão.
Que você acolha os eus.
Que os eus sejam acolhidos por vocês.

É proibido proibir!

Que educar seja ato de amor.
Que a educação seja ato politizado.
Que lecionar seja ação transformadora.
Que o prefixo "trans" não seja repelido.
Que "trans" seja mudança na formação.
Que artistas produzam Arte.
Que professores sejam acolhidos.
Que famílias orgulhem-se de professores.

É proibido proibir!

Que o amor vença.
Que a dor seja só de topadas.
Que a angústia seja pelo final da novela.
Que a ansiedade seja para comer o hambúrguer.
Que a respiração seja tranquila.
Que ser seja esplendoroso.
Que a esperança seja a esperança da luta.
Que eu sobreviva à dor.
I will survive, literalmente!

I will surviver, literalmente(!)?

Desde sexta passada, os dias têm apertado meu juízo.
Já tive crise de pânico, outras vezes.
Cheio de pontos, mesmo.
Porque a cada frase finalizada, é uma morte aproximada.
Prostituição, sexualidade e gênero, são temas sempre problemáticos.
Mas você precisa mencioná-los, junto à violência contra mulher,
o machismo, feminicídio e outros,
pois a BNCC determina-os como temas transversais.
Dentro dos seus conteúdos, você precisa abordá-los,
como forma de transformação social.
O prefixo "trans" causa tanto incômodo,
só por significar mudança.
Uma sociedade fóbica só por um prefixo.
O negócio é que ele representa pessoas, comunidade excluída,
marginalizada e assassinada.
Ele representa uma expectativa de vida de 35 anos,
de uma população que é tão abusada pela família brasileira.
Discretamente, eu fui podado.
O problema é que discrição não é comigo.
Não admito essa palavra, não sou discreto,
já saí do armário.
Na real, o meu sempre esteve escancarado,
mas quebrei suas portas.
Sou professor e reconheço a importância
social e moral da minha profissão.
Não admito ser podado,
quando tento desconstruir heranças fóbicas.
O papel da Arte é criticar e desconstruir sociedades,
para fazê-las enxergar que não há porquê
de fobias, e, então, fazer seres conscientes de si e dxs demais.
Pode parecer, a muitos, algo simples e que não
precisa se deixar ser tão afetado,
mas a coisa velada, dói tanto quanto a escancarada.
Entendo que todas as outras coisas que
rodeiam minha cinesfera, são tão pavorosas,
além de um cansaço extremo e sufocante,
por um final de ano letivo que não chega ao fim.
Acabei de lembrar. É um desejo pelo fim de 2019.
O pior dos últimos piores. Precisa findar.
A esperança precisa se instalar,
mesmo que seja a primeira a matar.
Não consigo usar metáforas.
Saudades da minha época metafórica.
A ingenuidade acabou, quando floresceu a pancadaria adulta.
Preciso registrar, diretamente, cada respiração ofegante,
cada sensação de falta de ar, de pressão torácica.
(o que anunciava um desenrolar de lágrimas, está oco)
A dança reconecta meu instinto com meu ser.
Preciso dançar.