terça-feira, 7 de maio de 2013

Outono em Paris

Há anéis que mudam de cor, de acordo com o ânimo de quem os usa.
Há capas de celulares que têm o mesmo efeito.
Hoje a minha está um outono em Paris.
Com um clima frio, mas, as vezes, agradável.
(dentro da minha vã suposição de quem nunca passou outono em Paris)
Laranja. Sim, bastante laranja, acinzentado e negro.
Algumas folhas verdes, que em algum tempo, amarelecem e cairão.
Enfim, poucas cores. Apenas o leve brilho que cintila,
naturalmente, das ruas, dos animais, rios e seus transeuntes.
Mas, acima de tudo, uma estação,
que tem seu início e seu fim, sem jamais perder sua beleza;
sua leveza; sua grandeza e, porque não, seu glamour, hum?
Bancos vazios, pessoas sentam e levantam,
as vezes, sem se quer se cumprimentarem.
Mas claro, qual a probabilidade de se conhecer alguém
que, do nada, senta, em um banco, ao seu lado?
Raras, porém, existentes. Educação, talvez, fosse a resposta para o
cumprimento que faltara da outra vez.
Mas há quem sente ao teu lado, nesse mesmo banco,
troque ideias, conte piadas, acalente teu frio e você oferece, então,
o pouco café quente que tem, para esquentar a pessoa e retribuir a gentileza.
O problema é que esse pouco café, era tudo que você tinha pelo resto do dia,
mas ele/ela é legal, desperta bons sentimentos,
que não haveria porque negar sua ajuda,
seu apreço, a quem te faz bem naquele instante.
E você dá o café, o casaco, a calça, as luvas, as meias.
E você fica apenas com seus calçados. Mas não custa nada, você ainda está
se entretendo com a pessoa, que parece mais sua velha amiga de infância,
aquela que você não vê desde o final do colegiado e que jamais dera notícias,
mesmo jurando amor e amizades eternos, ou, então, o "feitos um para o outro",
que enquanto eras criança, insistiram muito para que acreditastes em fábulas,
aquelas mesmas que te fazem sonhar junto, sabe?
Só que nessa hora, isso não importa, só importa você se sentir bem e fazer o mesmo pelo próximo.
Aí, chega o momento em que ninguém espera. O tempo passa e sua companhia, levanta-se e vai.
Você fica em choque! Tenta entender do porque da partida sem se quer um "Obrigado! Você é bastante gentil."
O choque parece ser eterno.
Aí, ela volta, você se enche de esperança que terá, novamente, a bela companhia,
naquela tarde fria de outono, mas ela veio apenas se despedir com um "Adeus!"
E você volta a ficar só naquele mesmo banco, vendo as pessoas passarem, é quando se enche de esperança, outra vez, respira fundo e pensa:
Amanhã, quando estiver nesse mesmo banco, o dia será melhor.
E no outro dia você está ali, sentado, parado, esperando a próxima companhia para uma tarde agradável e,
ninguém pára. Você volta no dia seguinte e, nada. Isso passa a se repetir incessantemente. Sua busca continua a insistir na mesma esperança em que encontrarás alguém para uma tarde agradável. Isso vai se tornando insuportável. Cada vez mais você continua correndo atrás dessa esperança e quanto mais se corre, mais longe ela fica e vem o momento em que você pára. Olha para si, percebe-se exausto, calejado, esgotado. Assim, você começa a conversar consigo mesmo e perguntar-se se estás bem, como seus músculos estão, se seu pulmão ainda funciona direito, e o meu coração? Oh, céus, como estará meu coração? Dilacerado?
Você percebe, meio sem perceber direito, e se dá conta de, apesar de todo o desgaste, você está vivo, seu coração bate na mesma velocidade de antes, com o mesmo vigor, e isso te faz a começar a se enxergar diferente. Você está vivo e isso é fabuloso! Eu sou forte, lutei, busquei, corri, cansei, mas estou de pé. Eu sou importante, minha saúde é importante e aí, sim, depois de tanta busca, vem a percepção de que não há melhor tarde agradável para se ter do que com a sua própria companhia.
É quando os galhos começam a brotar novamente, a primavera começa a dar os primeiros sinais de vida, por mais que depois do outono venha o inverno, isso não tem a mínima importância, você está bem, estou feliz. A primavera bate à sua porta, vamos, corre, abre a porta e sinta a brisa entrar por seus pulmões e revigorar sua alma, afinal, você não vai mais querer passar os próximos outonos sem a melhor companhia da vida, você mesmo.
Bem vindo, à primavera parisiense, à minha primavera parisiense!

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